
À Deriva
ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve
28 de setembro . 21h30
ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve
28 de setembro . 21h30
Na sua génese, o texto reporta-se a uma situação concentracionária específica e a um caso verídico ocorrido durante o regime do apartheid na África do Sul, na ilha-prisão de Robben, a mesma onde Nelson Mandela cumpriu pena durante 27 anos.
Dois companheiros de infortúnio partilham a mesma cela; durante o dia realizam trabalho forçado e à noite ensaiam a Antígona, de Sófocles. O objetivo é que a peça, reduzida às personagens Antígona e Creonte, seja apresentada perante os outros prisioneiros: ela expõe paralelos entre a situação de Antígona, condenada por razão discricionária, e a idêntica contingência em que todos eles se encontram naquela ilha-prisão.
Pois, se esta é a génese, já o enredo contém uma inevitabilidade que, no plano das conjeturas dramatúrgicas, nos remete para problemáticas da contemporaneidade, designadamente no que respeita a casos de migrantes que, fugindo da miséria, não logram chegar ao esperançoso lado ocidental do Mediterrâneo e acabam capturados e explorados em condições análogas às que o texto fundador expõe.
Também aos que nos seus próprios países são reféns da cobiça e interesses múltiplos, como é o caso dos sujeitos a escravatura nas minas de Coltan no Leste do Congo, o mineral metálico coração dos smartphones.
Também ao tráfico humano, em geral, que contemporaneamente acontece em África com a discreta conivência e múltiplos interesses ocidentais…
Por conseguinte, o drama daqueles dois homens de Robben perpetua-se noutras ilhas e sob outros pretextos.